quarta-feira, maio 27, 2009

Foi como se eu tivesse voltado, pelo menos, doze anos atrás. Há doze anos, era eu quem estava toda ansiosa às 7h da manhã para ir viajar com a escola. As famosas "excursões escolares". Logo de início, o monitor, aos poucos, tenta pegar a confiança dos alunos, na esperança de conseguir controlá-los nas horas de maior bagunça. Sim, porque a bagunça sempre vai existir, cabe aos professores mantê-la aceitável. Há doze anos, não existia celular e tampouco era possível ouvir músicas por meio desse aparelho. Atualmente, a viagem toda é regada com os últimos hits e só se ouve: "Aaai, eu não acredito que você tem essa música! Peraí que vou ligar meu bluetooth para você me passar!". E a poluição sonora aumenta, e os tons de voz também. Foi-se o tempo em que as "crianças" iam cantando a viagem toda [essa é uma parte da qual eu não tenho muita saudade, mesmo].
Bagunça de lá, bagunça de cá, "pessoal, não quero ninguém em pé no corredor!", "galera, por favor, não coloquem os braços para fora do ônibus!", "Joãozinho, acabei de falar que não quero ninguém no corredor!", "meninos, não mexam com ninguém na rua, vocês não sabem com quem estão lidando!", "atenção, todo mundo, por que todo esse alvoroço com um travesti? até parece que vocês nunca viram um! RESPEITO, pessoal, RESPEITO!", "gente, é só uma banca de jornal cheia de revistas para adultos, sem escândalo, por favor!". Finalmente, quando chegam ao destino, estão todos mais ansiosos ainda. Descem se atropelando pelas escadas, sempre escoltados pelos professores e monitores.
Teatro. "Desliguem seus celulares! Não, não pode deixar no vibra. Desligado é desligado, Mariazinha!". Alguns shiiius daqui e psssiiiu dali, a peça termina.
Na saída, à espera do ônibus, quase na hora do almoço. "Tia, cadê o busão?", "Tia, a gente vai almoçar onde?", "Tia, pode comer Mc? E Subway?", "Ai, olha o All Star daquela menina, é de zebra! Eu quero comprar um. Tia, adorei seu All Star verde!!". Ah, nada melhor do que um shopping enorme para levar os anjinhos. "Tia, posso ir pegar o catálogo da Kipling?". Ok, todos alimentados, números checados, vamos ao museu.
No museu. "Pessoal, só fotos sem flash, ok?", "Não pode correr, não pode mascar chicletes, não pode se dispersar da turma, combinado?". Meninas tirando fotos no espelho, meninos ensandecidos com a história do futebol e, finalmente, duas horas depois acaba o passeio. Na saída, as meninas começam a gritar e agarrar um pobre coitado meio japonês, de cabelo loiro e barbicha. "MeuDeusdocéu, quem é esse ser?", alguém responde: "Acho que é o baterista do CPM, NX Zero ou alguma coisa assim.". "Ah, tá, prazer, moço.".
De volta ao ônibus, a mesma saga da ida se reinicia. Músicas de celular, gritaria, pessoas no corredor... Mas, ufa, algumas coisas não mudam nunca: a famosa cantoria "Buzina, buzina, buzina, buzina!" ao chegar no colégio não poderia faltar! E o motorista, claro, aperta a buzina o quanto pode.
Ao descer do ônibus, os monitores e professores assistem a cada um dos alunos ao pisar na calçada. "Tchau, tia, foi muito legal!".
E a tia vai embora, cansada, mas feliz por poder ver os dois lados de um excursão escolar. Há doze anos, era ela quem descia do ônibus e dizia as mesmas palavras enquanto seus pais a esperavam do outro lado da rua.

2 comentários:

Li disse...

Só posso dizer que ADOREI!

Guilherme Beraldi disse...

Impressionante os momentos ressaltados pela autora..

12 anos?? Acho que eu desci desse onibus tbm..se não me engano alguns minutos antes ou depois de vc..hehehe