quarta-feira, novembro 19, 2008

Ela tem um tolete de folhas pra ler até o final de semana.
Os toletes estão lá, ao lado dos dois travesseiros e da almofada. Há também 3 controles remotos [um da televisão, outro do DVD, e mais um da tv a cabo], um livrinho de palavras cruzadas, lápis, óculos, celular, um livro, uma revista e uma garrafinha d'água.
Tudo isso sobre a cama, de casal, ao lado da cabeça dela.
Definitivamente, ela não dorme sozinha.


quinta-feira, novembro 13, 2008

Tombos.
Como é possível uma pessoa parecer viver sempre na corda bomba?
E eu me refiro aos tombos nos dois sentidos: literal e figurado.

Já conheceu alguém que tropeçasse na própria barra da calça boca de sino e se estatelasse na calçada, enquanto sua mãe a espera do outro lado? (Filha? Cadê você?) Aqui, mãe. Caída atrás do carro estacionado.

Já imaginou alguém torcer o pé de havaianas na areia da praia e começar o ano mancando e com uma consulta marcada no ortopedista? Não, doutor. O braço está ótimo, hoje é o tornozelo.

E alguém que cai de quatro em pleno almoço festivo [pago] e é tachada de bêbada sem ter tomado um gole da tal caipirinha "de graça"? E agora? Saio engatinhando e me escondo, levanto e dou risada ou me finjo de morta?

E aquela que está com tanta pressa no metrô paulistano a ponto de tentar subir correndo a escada rolante e tropeçar três vezes e cair as três vezes para uma platéia gigantesca? Raios!

Consegue ter uma idéia da vergonha que alguém passa ao descer do ônibus e cair de joelhos na rua? Ops, escorreguei.

Já correu tanto que saiu voando e seu joelho carrega a marca até hoje? [e a calça rasgada deixou de ser moda e foi doada]

Tem também aquela pessoa que cria tantas expectativas sobre algo ou alguém e, de repente, se vê perguntando: Oi, cadê o chão daqui mesmo?
[esse é o pior dos tombos; a decepção, a frustração, a mágoa.]

Mas, acredite, cicatriza.

quarta-feira, novembro 12, 2008

"Diálogo

— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida."

[Rita Apoena]

segunda-feira, novembro 10, 2008

Já diria alguém muito sábio: estou descrente na raça humana.
Não, eu não julgo ninguém e justamente por isso estou tão descrente em tudo. Não me espanto com mais nada que possa parecer incomum. Só não concordo, pelo contrário, eu me revolto.
Eu te amo virou bom dia. Traição passou a ser compreensível. Maus tratos domésticos já não são novidade. Sexo está mais do que banalizado. Mentiras tornaram-se necessárias. Falsidade chega a ser confundida com amizade. Amor virou cisma. "Tempo" virou putaria. Falta de tempo significa falta de educação. Bom partido depende da conta bancária. Inteligência pode ser um problema(?). Ter escrúpulos está fora de moda.

Acorde-me em janeiro. Cansei disso tudo.

quinta-feira, novembro 06, 2008

"- Sabe a garota do copo d'água?
- Sei.
- Parece distante, talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai colocar ordem?"

[Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain ]
Ela tinha quinze anos quando encontrou seu primeiro prospecto de namorado. Ele tinha dezoito ou dezenove anos e já tinha um pouco mais de histórias para contar. Ele andava em turma. Daquelas turmas onde todo mundo se conhece há tempos e tempos e todos os programas têm que ser em turma. Coisa mais chata. Mas ela não reclamava. Achava até bacana, assim não precisava dar desculpas caso não quisesse fazer algo. Se é que me entende. Ela não sabia quase nada da vida e achava importante comemorar cada mês de relacionamento. Geralmente sozinha, mas comemorava. A comemoração do terceiro mês transformou-se em um funeral. Você é uma menina linda e merece o melhor. Eu estou confuso porque sei que com você as coisas têm que ser sérias e por isso eu preciso desse tempo para saber o que eu vou fazer da minha vida. [fale de uma vez que você não quer ficar com uma menina virgem, idiota.] Ela sofreu, sofreu e sofreu. Ela achava que isso poderia ser amor. Achava também que há qualquer momento ele poderia voltar e pedir perdão. Ilusão. Poucas semanas depois ele começou a namorar... uma das garotas daquela turma. E a menina de quinze anos carregou essa mágoa durante sete anos. Um mês antes do casamento dele [com aquela garota/mulher da turma], ela o ouviu dizer: Hoje eu vejo o que eu perdi, a pessoa que eu deixei sair da minha vida. Eu não sei se meu casamento vai dar certo, a gente nunca sabe, mas que eu perdi uma pessoa incrível, eu perdi. E houve um último beijo. Ela sentia-se vingada(?) sem ao menos ter planejado tudo isso. Sete anos depois ela ouviu o que esperou durante todo esse tempo. E pra quê? Isso mudou alguma coisa? E até hoje, nas raríssimas vezes em que se encontram casualmente, o clima fica tenso. Ela evita olhares e tenta passar despercebida. A esposa, com todo bom sexto sentido que esposas têm, sente ciúmes daquela menina alta, magra e, por que não, bonita. Mas é só ciúmes.
No mundo em que eu vivo, mulheres altas, bonitas e magras são felizes! Felizes em qual sentido? Em todos, mas, especialmente, elas parecem ser completamente realizadas no amor e nenhum homem as trata mal. Não as rejeita, não as faz chorar. Então me apresente a esse mundo... No mundo em que eu vivo as coisas são bem diferentes... Mulheres altas, bonitas e magras não devem sofrer por amor. Mas sofrem. Aliás, estão bem mais propensas a isso, sabe? Como isso é possível? Eu sempre achei que vocês poderiam ter tudo e todos. Algum infeliz resolveu pintar a idéia de que o "ideal" para uma mulher é isso. Mas, não, o mundo não é alto, magro e tampouco bonito. Você está generalizando, não? Talvez... Mas o que eu quero mesmo é acabar com essa utopia de que centímetros a mais, quilos a menos e uma certa beleza pode ser sinônimo de felicidade. É... Você tem razão, mas é irônico isso tudo. Irônico é pouco.
É como se eu entrasse em uma máquina de lavar roupas e me torcesse inteira. Eu preciso falar. Um punhado de contos contam várias histórias.
Talvez você encontre a sua aqui.