quarta-feira, novembro 17, 2010

Geronto o quê?

Há previsões de que, em 2025, o Brasil seja o 6º país com o maior número de idosos e, em 2050, estima-se que o mundo terá 2 bilhões de idosos e dois terços deles estarão em países em desenvolvimento. Com base nesses dados, o envelhecimento humano, um fenômeno mundial e irreversível, passou a ser estudado de uma maneira bastante específica por meio do curso de Gerontologia, oferecido pela USP (Universidade de São Paulo), UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e FAI-SP (Faculdades Adamantinenses Integradas). A primeira turma da USP se formou em 2008.

Apoiada pela ideia de que o "país está envelhecendo", Mayne Patricio Malagutti, 22 anos, viu na Gerontologia a união de todos os assuntos que lhe interessavam: envelhecimento humano, biologia, psicologia e questões sociais. Na época do vestibular, em 2005, Mayne estava em dúvida sobre qual profissão escolher. “Sempre gostei de biologia, estudos sobre relações humanas e aspectos psicológicos, mas não tinha certeza de qual área seguir”. Ao ler o manual da Fuvest (USP), ela se deparou com o curso de Graduação em Gerontologia e resolveu arriscar.

Mayne diz que quase todos os textos que abordam a temática do envelhecimento começam trazendo a mudança demográfica que está ocorrendo no Brasil, acarretando num número maior de idosos. Os mesmos textos deixam claro que a preocupação com o envelhecimento populacional deveria ganhar maior destaque, havendo maior número de profissionais e estudiosos na área. Isso a levou a acreditar que o gerontólogo seria bem aceito no mercado, tanto em equipamentos de saúde como em equipamentos sociais. Entretanto, isso não está ocorrendo. A falta de divulgação do curso faz com que esse profissional não seja reconhecido. “A inserção do gerontólogo não está sendo fácil, mas meus professores (psicólogos, fonoaudiólogos e fisioterapeutas) sempre diziam que, quando eles começaram, o preconceito era igual. Acredito que leva um tempo mesmo para ganhar espaço”, diz a recém-graduada.

Com boas recordações da faculdade, a gerontóloga declara que, além das grandes amizades, sente falta do contato com as pessoas idosas. Ela costumava participar de oficinas na Universidade Aberta da Terceira Idade da própria faculdade e todo semestre realizava estágio em alguma instituição. “Aprendia muito com os mais velhos”, diz Mayne.

Ao falar do futuro, a ex-estudante da USP não hesita em demonstrar o orgulho pela sua escolha profissional: “acredito muito na minha profissão, principalmente por ter passado por diversos estágios e ter identificado a necessidade de um gerontólogo nos locais que passei. Não perco a esperança. Tenho certeza de que um dia o gerontólogo será reconhecido”.

O curso

O currículo é dividido em áreas temáticas, como biológicas e sociais, fundamentos para atuação na área de saúde, assistência ao idoso e administração relacionada a programas e serviços de saúde. Assim, você estuda disciplinas como psicogerontologia, psicologia, epidemiologia, bioestatística e biologia do envelhecimento. Também compõem a grade curricular o cuidado gerontológico, o idoso na família e na comunidade, a assistência ao idoso hospitalizado, a alimentação e nutrição do idoso, a assistência domiciliar e políticas e programas de saúde do idoso. No último ano, é exigida a realização de estágios.

Duração média: quatro anos.

O que você pode fazer

Apoio familiar

Atuar no aconselhamento e orientação psicológica de familiares visando a aumentar a qualidade de vida dos idosos.

Capacitação

Preparar cuidadores de idosos – ocupação reconhecida pelo Código Brasileiro de Ocupações.

Planejamento

Planejar, promover e coordenar ações para informar a população sobre os cuidados específicos com os idosos. Propor projetos para solucionar os problemas da terceira idade, levando em conta as principais doenças que a acometem e os fatores sociopolíticos e culturais.

Docência e pesquisa

Orientar projetos de pesquisa e ministrar aulas teóricas e práticas.

Salário inicial

R$ 1.300,00 (20 horas semanais); R$ 2.600,00 (40 horas semanais); Fonte: Associação Brasileira de Gerontologia.


terça-feira, novembro 16, 2010

A vida é do jeito que tem que ser

É assim que essa mineira de 51 anos se refere à vida e a todos os acasos que lhe ocorreram. Neide Aparecida Borges Coutrim, nascida em Campos Altos, município localizado na região do Alto Paranaíba, é a segunda da fila entre dez irmãos, “todos palhaços, de bem com a vida”, segundo ela.

A apreciadora de pão de queijo, fazendo jus às origens, estudou até o 4º ano primário, mas sempre que possível está lendo alguma coisa “para manter a cabeça ativa”. Com 18 anos, casou-se com Walter Xavier Coutrim, e mudou-se para Americana, no estado de São Paulo, pois seu marido saiu da lavoura de café, em Campos Altos, e foi trabalhar em uma tecelagem na “princesa tecelã”, como é conhecida Americana.

Seu primeiro emprego foi como faxineira, aos 26 anos. Trabalhou em várias casas, mas há 13 anos presta serviços para a mesma família. Atualmente, Neide é o arrimo da casa; seu marido deixou de trabalhar em 1997, pois sofreu um acidente de trabalho, que lhe rendeu uma lesão na coluna, e foi aposentado por invalidez.

Sempre de bem com a vida, a mineira extrovertida levou um susto aos 32 anos de idade: descobriu que tinha um câncer de colo de útero e foi submetida a uma cirurgia. Ficou em tratamento por nove anos até ter alta, finalmente. Durante esse tempo todo, Neide disse não ter desanimado e nem tampouco reclamado da doença. “O que tenho para passar foi o que Deus deixou para mim.”

A “rainha do lar”, como se autointitula, teve seu primeiro filho aos 19 anos, Alex, e, aos 23, nasceu Rafael. Com 7 meses, o caçula teve meningite e ficou com sequelas: apresenta um atraso mental de quatro anos e pode ter crises convulsivas, caso saia do tratamento. Hoje, com 27 anos, frequenta a APAE de Americana há aproximadamente 15 anos. Nas palavras de Neide: “quando a meningite não mata, aleija”.

Seu primogênito casou-se em 2002 e já teve seu primeiro filho, Gustavo, que veio a falecer 1 ano e meio depois, com uma crise convulsiva oriunda de uma infecção não identificada. Essa é uma tristeza muito grande que ela ainda carrega, embora tente disfarçar, e seu sorriso dá lugar ao semblante sério ao falar do assunto. Neide disse que, na época, chegou a questionar a razão de uma perda tão grande. Falou, ainda, que de todas as peças que a vida lhe pregou, essa foi a mais cruel. Hoje, afirma que entendeu que ela precisaria passar por isso, que seu “anjo” cumpriu sua missão na terra. Espírita, Neide acredita que seu neto está sempre ao seu lado, dando força para suportar a saudade. Além disso, ela sempre se sente segura ao receber um abraço apertado do filho mais novo. “Quando o Gu morreu, foi o Rafa, com sua maneira de ser, que me fez ter forças. Ele me abraçava tão forte, parecia querer tirar de dentro de mim aquela angústia.”

Em 2006, a alegria voltou a fazer parte da família Coutrim. Nasceu Lucas, o segundo filho de Alex e, em 2007, Geovana veio para encher a casa de mais felicidade. Neide tem completa adoração pelos netos e sempre leva uma foto deles em sua carteira.

A mulher miúda, de cabelos pretos naturais, abre um sorriso ao falar de seu gosto pela música, “adoro o Michael Jackson”, e pela dança, “se eu pudesse, saía dançando por aí o tempo todo”. Quando está trabalhando, procura deixar um rádio por perto e sempre encontra tempo para assistir a programas ou filmes do Didi Mocó, “ele é um palhaço, sempre me faz rir”! Vaidosa, mantém as unhas dos pés esmaltadas e corta os cabelos regularmente.

Em um tom divertido, Neide resume sua vida em uma única palavra: “corrida”. “O que tenho para passar foi o que Deus deixou para mim, mas ele sempre me dá força para seguir em frente. Eu vejo a vida do jeito que tem que ser. Tudo o que eu passei, tudo o que acontece, tem um significado. Tem dia que eu acho que vou desmoronar, mas eu sempre levanto, pois eu tenho que cuidar do Rafa. Se não fosse ele, eu não teria suportado a perda do meu neto. Não sei o que seria de mim sem o abraço apertado que ele me dá todos os dias quando chego do trabalho.”