quinta-feira, julho 16, 2009

Três anos. Pedro e Isadora estavam juntos há três anos. Ela, que sempre fora romântica, nunca tinha recebido flores. Talvez um dia, no primeiro ano de namoro, quando ele bebeu demais e se esqueceu de buscá-la na rodoviária. Duas horas depois, apareceu com uma única flor e uma ressaca moral maior que o buraco no estômago de tanto vomitar. Isadora, com os olhos vermelhos, sorriu e perdoou. Podia parecer que não, mas Pedro amava Isadora. Ele nunca havia dito, mas sentia. E Isadora, apesar de ter estranhado a mudez de Pedro, aprendeu a conviver com o silêncio. Aprendeu a viver com o suposto desamor que rondava o relacionamento deles. Pedro trabalhava bastante, estava sempre envolto aos negócios. Dizia que queria comprar uma casa. Ele só se esquecia de mencionar o “para nós”. Com o tempo, Isadora também passou a planejar sua vida sozinha. A diferença é que ele agia de uma maneira despretensiosa, ela passou a fazer tudo premeditado. Pedro tinha outros passatempos, com nomes, curvas e histórias. Isadora desconfiava, até que um dia comprovou. Perdoou. Isadora nunca sofreu por Pedro, sempre fora muito tranquila. Ela também tinha onde se divertir, mas era feliz consigo mesma. Isadora não fazia nada por vingança. Aprendera que ser vingativo faz mal à saúde. Pedro passou a ser um móvel na vida de Isadora. Pedro era a mesinha do computador de Isadora. Ele precisava estar lá, embora não fosse completamente fundamental. Isadora acostumou-se com aquela mesinha e ainda não tinha vontade de se desfazer dela. Pedro parecia não enxergar Isadora às vezes, só queria saber de si. Assim, era comum o cenário: na mesma casa, ela lia um livro na sala, enquanto ele cozinhava, como se ninguém estivesse em casa. Isadora sentia falta do amor. De declarações, de sentimento. Mas não tinha tempo para essas coisas. Pedro nunca se esforçara para manter Isadora em sua vida, era tão seguro de si que ficou indignado quando, brincando, perguntou a Isadora se ela já o havia traído. “Sim”. Com quem? “Você não conhece”. Ficou dois dias mais mudo que o normal, mas nunca cobrou nada de Isadora. Naquela manhã, Isadora saiu cedo para trabalhar. Pedro continuava dormindo. Depois de muito tempo sem esse hábito, ela deu um beijo de despedida e saiu. Ele nem notou. Isadora não voltou. Pedro só notou quando foi dormir e não encontrou Isadora do lado da cama. Teve uma leve preocupação e esperou um pouco para ligar. Ela não atendeu.
Isadora estava em casa. Em sua casa.
Com o passar do tempo, providenciou sua própria vida. Aos poucos, ela foi levando suas coisas do apartamento que morava com Pedro para o seu novo apartamento. Pedro nunca notou. Além de tudo que comprou para o novo lar, a última aquisição de Isadora foi um notebook. Assim nunca mais precisaria de uma mesinha.

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