terça-feira, dezembro 15, 2009

Abri o livro que você me deu há quase três anos e senti uma repulsa ao ler sua dedicatória. Antes não tivesse escrito nada, assim eu não teria que relacioná-lo com aquele livro cheio de poeira em minha estante. Era para ser um presente de aniversário, mas você o entregou atrasado e o leu antes de mim. Senti raiva, deixei guardadas suas palavras até o dia em que eu realmente sentisse vontade de lê-las. Hoje. Não foi uma vontade premeditada, mas súbita. Olhei o título tão inconveniente e puxei-o com força. Eu nunca havia me interessado por essa leitura. Em menos de um dia li o livro do início ao fim, sentindo uma espécie de curiosidade e ansiedade para terminar de ler o quanto antes para, finalmente, encerrar qualquer vínculo que houvesse entre nós. Não gostei do que li. Eu deveria saber que você nunca soube o que realmente me agradaria. Arranquei a página com a dedicatória e guardei o livro na última gaveta do armário cheio de tralhas. Como se, de alguma forma, você pudesse ouvir meus pensamentos, o telefone tocou e era você do outro lado. Usou sua voz mais tranquila, o pretexto de que havia tido um sonho, e desligou com o gosto amargo da ausência de sentimentos. Arrependimento. Pela escolha do livro, pela dedicatória, pela mágoa causada, pelo sentimento destruído, pela perda. Você nunca aprendeu como proceder quando a saudade acorda.

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