quarta-feira, junho 30, 2010

(...) Eu sou apenas duas: a verdadeira e a outra. Uma outra tão calculista que às vezes me aborreço até a náusea. Me deixa em paz! - peço e ela se põe a uma certa distância, me observando e sorrindo. Não nasceu comigo mas vai morrer comigo e nem na hora da morte permitirá que me descabele aos urros, Não quero morrer, não quero! Até nessa hora sei que vai me olhar de maxilares apertados e olho inimigo no auge da inimizade: Você vai morrer sim senhora e sem fazer papel miserável, está ouvindo? Lanço mão do meu último argumento, tenho ainda que escrever um livro tão maravilhoso... E as pessoas que me amam vão sofrer tanto! E ela, implacável: Ora, querida, as pessoas estão fazendo montes. E o livro não ia ser tão maravilhoso assim.

[Lygia Fagundes Telles]

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