sexta-feira, janeiro 22, 2010

Infelizmente (e é com muito pesar mesmo que faço tal afirmação), eu pareço pertencer ao grupo de pessoas classificadas, carinhosamente(?), como boazinhas. E não é difícil de entender o porquê de tamanha tristeza e frustração em admitir isso, afinal, é mais que sabido que bonzinho só se fode e que ser bom é ótimo, mas ser bonzinho é péssimo. Entretanto, felizmente, eu não sou um caso tão perdido. Eu tenho acesso de fúria às vezes; aprendi a dizer 'não' em algumas situações; tenho meus acessos de sinceridade, sim; fujo de algumas pessoas inoportunas; finjo não ser eu ao telefone quando me ligam de um banco a esmo para oferecer cartão e não compro aquela blusa de estampa de oncinha com lantejoula pink só para não magoar a vendedora (mas peço desculpas sinceras e saio da loja chateada por tê-la feito perder a vez no atendimento; mas se me atenderem mal, eu sou capaz até de experimentar algo - e não levar, claro - só para ela perder mais um tempinho) e, finalmente, eu até posso parecer dócil, calma, tranquila e até mesmo aérea, mas a bem da verdade é que eu, na maioria das vezes, não encaro isso como um problema. É claro que às vezes é um pouco desgastante tentar ser sutil, mas eu ainda prefiro me contornar nas palavras a ser direta e, por que não, até grossa. É fácil identificar o meu diálogo:

- Pega mais comida!
- Não, brigada.
- Pega, você não comeu nada!
- Não quero, já falei.

- Pega mais comida!
- Não, brigada, estou satisfeita!
- Pega, você não comeu nada!
- Comi, sim! Está ótima, mas estou realmente satisfeita!

[conta pra mim, custa falar umas palavrinhas a mais?]

No entanto, hoje - ultimamente, eu diria - eu tenho passado por algumas situações que me fazem ter ódio de mim mesma por não ser capaz de usar esse tamanho todo para intimidar os ogros de plantão. Eu até acho bacana quem fala o que pensa, mas isso nos leva a um certo grau de rudeza e antipatia, às vezes, e eu não sou capaz de tamanha façanha, nem com o moleque que insiste em sujar o vidro do meu carro no semáforo ao invés de limpá-lo (mas, nesse caso, é porque eu me sinto ameaçada, confesso). Sobretudo com amigos, familiares e pessoas que eu sei que vou ver de novo - ainda que não sejam tão próximas assim, eu tento ser amena, embora nem sempre consiga: ou eu fico muda, remoendo cada palavrinha, ou então despejo de uma vez tudo o que eu acho e morro de arrependimento depois. O fato é que eu tenho vontade de esganar a secretária do médico que parece estar fazendo um favor quando eu ligo para marcar consulta; tenho vontade de dar uma voadora naquela mal-educada e folgada que acha que com grosseria vai conquistar alguém; tenho vontade de dar um soco no queixo em quem é capaz de te atender mal quando você pede um pão na chapa na padaria (se fosse na peixaria, eu até ia entender, juro); tenho vontade de dar um peteleco na nuca do táxista que faz cara feia e dirige feito um imbecil porque sua corrida não vai render R$ 50; tenho pena de quem não sabe usar a entonação de voz e a escrita de uma maneira amigável e, finalmente, tenho pena de verdade por quem é tão infeliz e acaba por chatear outra pessoa que nada tem a ver com a história. E, mesmo que me chateiem às vezes, mesmo que achem que eu sou boazinha demais, na maior parte das vezes, eu acho que eu não poderia ser de outro jeito mesmo. Mas isso não me impede de fazer um comentário para quem distribui grosseria por aí: se o seu objetivo é ficar sozinho, parabéns, você está no caminho certo! As pessoas não vão pensar duas vezes para se afastarem de você! Afinal, quem age assim não merece muito do nosso tempo perdido:

- Ah, o José está sentado nessa cadeira... (quase pedindo desculpas para a criatura do pântano que puxou a cadeira de outra pessoa que estava sentada e só saiu por alguns minutos para buscar copos, deixando o prato de comida intacto à mesa, na frente da cadeira)
- Foda-se.
- Coitado, ele está com o pé machucado.
- Azar, dá a sua cadeira pra ele.
- É, isso que eu vou fazer.
- Eu sei que você faz, você é boazinha.
- ... (levanta e busca mais cadeiras - três)

É, eu sou boazinha mesmo, ainda bem!
[e antes que eu me esqueça, vá pra puta que te pariu]

* os diálogos são reais.

3 comentários:

Anônimo disse...

Em todo caso, desculpa!!!

Aline disse...

Paciência tem limite, mas educação é fundamental e cabe em todos os lugares e ocasiões... Quem te conhece bem, sabe que você não é "boazinha", mas que recebeu educação e sabe agir com polidez.
Tenho muito orgulho de você!
Beijos.

Diegovj disse...

Gente grossa é realmente lamentável, mas infelizmente esse parece ser o parâmetro de todo mundo hoje em dia.

Está cada vez mais complicado achar pessoas bem educadas...

Bjos, Dri!!