segunda-feira, julho 05, 2010

O jovem casal parou diante do jardim e ali ficou, sem palavra ou gesto, apenas olhando. A noite cálida, sem vento. Uma menina loura surgiu na alameda de areia branco-azulada e veio correndo. Ficou a uma certa distância dos forasteiros, observando-os com curiosidade enquanto comia a fatia de bolo que tirou do bolso do avental.



- Vai me dar um pedaço deste bolo? – pediu a jovem estendendo a mão. – Me dá um pedaço, hem, menininha?



- Ela não entende – ele disse.



A jovem levou a mão até a boca.



- Comer, comer! Estou com fome – insistiu na mímica que se acelerou, exasperada. – Quero comer!



- Aqui é a Holanda, querida. Ninguém entende.



A menina foi se afastando de costas. E desatou a correr pelo mesmo caminho por onde viera.



(...)



- Queria um chocolate quente com bolo. O creme, eu enchia uma colher de creme que se espalhava na minha boca, eu abria a boca...



Abriu a boca. Fechou os olhos.



Ele sorriu.



- Estou ouvindo uma música, a gente podia dançar. Se a gente se amasse a gente saía dançando.



Ela levantou as mãos e passou as pontas dos dedos nos cabelos. Na boca.



- E agora? O que acontece quando não se tem mais nada com o amor?



Quase ele levou de novo a mão no bolso para pegar o cigarro, onde fumara o último?



- Quando acaba o amor, sopra o vento e a gente vira outra coisa – respondeu ele.



- Que coisa?



- Sei lá. Não quero é voltar a ser gente, eu teria que conviver com as pessoas e as pessoas... – ele murmurou. – Queria ser um passarinho, vi um dia um passarinho bem de perto e achei que devia ser simples a vida de um passarinho de penas azuis, os olhinhos lustrosos. Acho que eu queria ser aquele passarinho.



- Nunca me teria como companheira, nunca. Gosto de mel, acho que quero ser uma borboleta. É fácil a vida de borboleta?



- É curta.



O vento soprou tão forte que a menina loura teve que parar porque o avental lhe tapou a cara. Segurou o avental, arrumou a fatia de bolo dentro do guardanapo e olhou em redor. Aproximou-se do banco vazio. Procurou os forasteiros por entre as árvores, voltou até o banco e alongou o olhar meio desapontado pela alameda também deserta. Ficou esfregando as solas dos sapatos na areia fina. Guardou o bolo no bolso e agachou-se para ver melhor o passarinho de penas azuis bicando com disciplinada voracidade a borboleta que procurava se esconder debaixo do banco de pedra.

(LFT)



Nenhum comentário: